domingo, 23 de agosto de 2009

domingo

Nos meus domingos, a melancolia chega cedinho de manhã, avisando que eu posso demorar um pouquinho mais na cama e continuar enrolada nos meus lençóis e devaneios. Nos meus domingos, o céu vai descolorindo, deixando cinza o seu azul e tudo mais que reluz em minha volta. Nos meus domingos, a placidez e a tristeza predominam aqui dentro, dando uma sensação de vazio e de conforto ao mesmo tempo. Nos meus domingos, um processo de sinestesia se inicia, e os aromas viram cores, as cores evocam melodias e as melodias despertam cheiros, até me remeter ao cheiro do seu corpo que eu sentia naqueles dias em que você acordava ao meu lado, com beijos e segredos ditos baixinho no seu ouvido; em que eu te amava devagarzinho e sempre; em que o tempo nos sabotava, passando mais rápido quando ficávamos juntos. Naqueles dias, em que os domingos não eram meus e encontrar você não se limitava a uma conexão de sinapses e nostalgia.

quarta-feira, 19 de agosto de 2009

platônico

Por favor, não me peça atenção. Nada do que você fale me soará mais interessante do que poder contemplar todos os pedacinhos que compõem seu ser, um a um, até me perder por completo na anatomia imperfeita do seu corpo. Basta uma palavra sua e meus olhos já percorrem lentamente seus lábios, olhos, pescoço, até entrarem em êxtase por encontrar uma manchinha escondida na nuca, despertando minha curiosidade em saber o quê mais existe em você que eu ainda não conheço. Vou estudando minuciosamente todos seus movimentos, trejeitos e manias, sem deixar você perceber que nosso diálogo virou um monólogo desde o começo. Você já detém a atenção de todas; uma a menos não faria diferença. Então, ignore meu semblante de fascínio e deixa-me aqui, divagando como seria se esses detalhes seus acordassem ao meu lado todos os dias.

quarta-feira, 5 de agosto de 2009

deixa ser

Tinha tudo para não ser. Estava resolvido, decidido, martelo batido. Não era para 3 dias virarem mais de 8. Nem para Recife virar trecho de ponte aérea. E, muito menos, Billie Jean virar música romântica. Mas, foi.

segunda-feira, 3 de agosto de 2009

meu plano

Eu sei, a culpa é minha. Eu que provoquei esse abismo entre nós quando resolvi sumir. Mas, não foi por despeito ou para fazer joguinho de gato e rato, até porque a gente sabe que, nesse jogo, ninguém sai ganhando, e eu não jogo para perder, inclusive meu tempo.

Era só por um período, até eu conseguir assimilar que o real sentido das suas palavras destoava completamente do que eu entendia. Porque, antes, meu coração, sempre tendencioso e narcisista, tinha tomado o controle da situação e me impedia de enxergar que o vínculo que me unia a você já não era o mesmo que unia você a mim. A relação da gente passou de direta para inversamente proporcional, e era eu que me encontrava numa desvantagem gritante.

Mas, você não entendeu. E eu não podia justificar essa ausência e correr o risco de vê-lo sair correndo e nunca mais voltar. E, no meu plano, não existia a margem de erro que impedisse que eu voltasse. Eu sempre voltaria.

Também achei que meus anseios, tão latentes ao ponto de serem vistos a olhos nus, bastariam como explicação. Por isso, foquei somente nos meus passos, perfilhando tudo que me faria nivelar meus sentimentos aos seus, e não pensei nos efeitos colaterais que atingiriam você. Só que, de alguma forma, isso tudo o influenciou.

E agora, estamos aqui, separados por esse buraco negro, que tentamos tapar com conversas educadas e muita hipocrisia, fingindo que nada mudou.

domingo, 2 de agosto de 2009

defeito de fábrica

- pô, meu celular endoidou.
-como assim endoidou?
- eu aperto na tecla e ele não disca.
-aahhhhh já? Não era um aparelho do caralho, de última geração?
- ele é do caralho, mas tá dando defeito.
-querido, a única coisa aqui que é do caralho, mas que dá defeito, sou eu!