segunda-feira, 19 de outubro de 2015

Sobre Ela

Há dois anos e meio, uma parte de mim resolvia ir embora sem conseguir se despedir. Foi num daqueles dias em que você já havia mentalizado o seu começo, meio e fim antes mesmo de conseguir engolir aquela meia fatia de pão integral, empurrada goela adentro por dois dedos de café.

Aqueles dias em que o telefone era deixado de lado e as mensagens eram respondidas de forma automática e com várias horas de atraso, “because time is money”.

Aqueles dias em que você tinha a plena convicção de que iria terminar do mesmo jeito que começou: corrido, esbaforido, mal vivido, até porque, no meio da semana de uma advogada de 28 anos, não havia tempo para nada de inusitado acontecer.

Até que uma ligação repentina mostra que sua vida pode, sim, pausar. Em questão de segundos, você perde todos os cinco sentidos enquanto escuta aquela verdade que você daria tudo para ser mentira.

Automaticamente, sua cabeça volta rapidamente para aquelas mensagens respondidas sem tempo, sem pensar, sem parar –  e, no meio, encontra uma mensagem dela.

O coração dolorido só deixava a cabeça encontrar perguntas sem respostas.

Nessas horas, a gente segue. Com o coração despedaçado, o peito partido, a vida em frangalhos, a gente segue. E, nessa caminhada trôpega e lenta, a gente ouve que só o tempo resolve.

O tempo passou. Não curou a ferida e nem respondeu minhas perguntas. Mas, ajudou a transformá-las em uma carta de despedida só nossa.

Nessa cartinha, ela me dizia que, no começo, iria doer, que de vez em quando eu iria chorar, e que isso não seria um problema, desde que eu não deixasse minha vida parar. Que ela estaria sempre ao meu lado, bastava só fechar os olhos e senti-la por perto. Que tudo iria ficar bem e que eu jamais deixasse de escrever, porque ela adorava meus textos e queria que eu escrevesse um só sobre ela. E que, sempre que a saudade apertasse, ela teria me deixado 21 anos de histórias pra reviver e relembrar.

Fiz exatamente como ela recomendou: senti saudades. Revivi as lembranças como se tivessem acabado de acontecer. Chorei sem tentar impedir as lágrimas de caírem. E, dois anos e meio depois, volto a escrever. E é sobre ela.

Hoje, eu respondo essa cartinha quase que diariamente. Conto tudo que tem acontecido e a falta que ela me faz. Agradeço os amigos que ela me deu. E prometo nunca mais deixar a vida pra depois e o amanhã se transformar em tarde demais.